Resumo das obras do vestibular 2017

Viagem no Espelho – Helena Kolody

Autora: A poeta Helena Kolody, filha de imigrantes ucranianos, é um dos nomes mais expressivos da poesia contemporânea paranaense. Nascida no dia 12 de outubro de 1912, com apenas 16 anos seu primeiro poema fora publicado, intitulado “A Lágrima”. Com 20 anos de idade Helena iniciou a carreira de professora. Seu primeiro livro publicado, “Paisagem Interior”, foi dedicado a seu pai, em seqüência foram publicados: “Música Submersa”, “A Sombra do Rio”, “Vida Breve”, “Era Espacial” e “Trilha Sonora”, “Tempo”, “Correnteza”, “Infinito Presente”, “Sempre Palavra”, “Poesia Mínima”, “Viagem no Espelho”, “Ontem Agora”, “Reika”.
Nas primeiras obras percebe-se que a poeta vai se encaminhando cada vez mais para a poesia íntima, confessional e auto-indagadora em que predomina o subjetivismo, a introspecção e o mergulho no mundo interior.
Entretanto, em suas obras posteriores, nota-se que aos poucos seus poemas vão se tornando sintéticos, condensados. Vale destacar que já em sua primeira obra são publicados três haicais: “Prisão”, “Arco-Íris” e “Felicidade”. O haicai é uma forma de poesia japonesa, caracterizado por seus pequenos poemas de três versos, com cinco, sete, e cinco sílabas poéticas sucessivamente.
Conhecida como grande poetisa, que conciliava perfeitamente a experiência da subjetividade com a objetividade, faleceu em 2004 aos 92 anos de idade.

Obra: “Viagem no Espelho” é uma antologia da poetisa Helena Kolody, reunindo livros publicados pela autora, de 1941 a 1986. Essa produção literária é considerada uma viagem ao contrário, como se fosse um espelho, pois os poemas aparecem em ordem inversa, iniciando-se pelos mais recentes até chegar aos primeiros. Justificando assim o título da obra.
É um livro que representa a poesia breve, portanto, nela predominam os poemas curtos. Simpatizante do haicai, Helena tem o poder de transformar sua sabedoria de vida em poemas belíssimos, ainda que seus temas possam ser densos e trágicos.
O “eu lírico” em viagem no espelho vê a vida como um mistério e o simples fato de existir o fascina. A concentração verbal dos haicais kolodyanos trabalha com muito lirismo e apresenta uma sonoridade rítmica que é marcada pelo processo de elaboração criativa e lúdica. Os poemas de Reika exploram a metapoesia, ou seja, o poema diante de si mesmo. Kolody, como poetiza vigorosa, concilia perfeitamente subjetividade e objetividade, emoção e razão, com poemas densos de significado, numa atualização constante em relação à modernidade.
Nessa obra, seus poemas são sugestivos e cheios de imaginação, intelectuais e emotivos, sintetizados e modernos, marcados por uma procura semântica inventiva de múltiplos sentidos. Percebemos a presença eminente de sentimentos de fugacidade, transitoriedade, temporalidade, mutabilidade, esperança e procura. Cada livro com características próprias, formando um todo cheio de significados como podemos observar na sequência abaixo:
Reika: É o que inicia a obra “Viagem no Espelho”. Composto principalmente por haicais e tankas, o tema mais explorado aqui, é a forte presença da natureza.
Ontem Agora: São poemas curtos (haicais e epigramas), contendo também alguns mais longos, trabalhando com antíteses e uma ironia latente.
Poesia Mínima: Trabalha com a metapoesia em formas poéticas breves, temos a metalinguagem e um “eu lírico” inspirado que fala sobre a aliteração e a incapacidade das palavras ao expressarem uma poesia.
Sempre Palavra: Aqui a fugacidade predomina, a ideia de efemeridade (tema comum a muitos simbolistas e neossimbolistas) é trabalhada com temas considerados essenciais como a vida, o amor e a inconstância do sentimento humano.
Infinito Presente: Nas poesias desse livro, percebe-se a depressão pessoal, tristeza e nostalgia, representadas por um “eu lírico” perturbado com sua existência.
Saga: Os poemas são variados, muitos com versos brancos, linguagem bastante metafórica e impressões intimistas.
Tempo: Na obra toda, o tema básico é o tempo, porém nesse livro ele predomina, trazendo consigo a efemeridade (esfera do tempo) e religiosidade, com temas bíblicos e lirismo intimista.
Trilha Sonora: Neste vemos cenas da natureza em relevo, contrastando com a vida urbana, é a transitoriedade do progresso modificando a paisagem.
Era Espacial: Um “eu lírico” angustiado com o progresso tirando a beleza e a graça das coisas naturais.
Vida Breve: Outra vez ela retoma o tema da brevidade, do exílio e da espiritualidade.
A Sombra do Rio: Os poemas se sobressaem com o tema da espiritualidade, o desejo de comunhão com Deus, há referencias à origem eslava e aos imigrantes e fortes lembranças bucólicas da infância. Dedica neste um poema a seus alunos.
Musica Submersa: Aqui a influência religiosa ucraniana da autora é forte, intimista e espiritualista. Ela transmite em seus poemas humildade e visão de deus. Parece crer numa predestinação para a dor. Presença de poemas mais longos em contraste com alguns breves.
Paisagem Interior: Esse livro encerra a obra “Viagem no Espelho” e marca o início da carreira de Helena Kolody como poeta. A linguagem é bastante metafórica e simbólica. Possui um transcendentalismo, um forte sentimento de humildade e reconhecimento de um atavismo ancestral. O temperamento da autora ao escrever, oscila entre soltar-se e reprimir-se. Seus pensamentos de natureza selvagem embatem com a religião e a opressão de sua época, num desejo constante de liberdade. Aqui ela fala de amor e paixão por meio de um “eu lírico” sentimental. Os poemas são longos e predominantes da forma clássica dos versos regulares. Há também uma forte conexão sanguínea e espiritual com sua pátria de origem (Ucrânia), ela eleva a história do seu povo e vemos o tema da migração definida pelo “eu lírico” como uma luta dolorosa.

 

Quarto de despejo – Diário de uma favelada por Carolina Maria de Jesus
A autora: Carolina Maria de Jesus nascida do interior de Minas Gerais em 1914. Com a ajuda financeira de um rico fazendeiro conseguiu iniciar os estudos aos 7 anos de idade, porém teve de abandonar a escola no segundo ano. Após a morte de sua mãe, migrou para São Paulo, e acabou por construir sua própria casa feita de pedaços de madeira, lata e papelão na favela do Canindé, um ambiente violento e precário. Carolina sustentava os 3 filhos coletando e vendendo papel. Mulher independente nunca desejou se casar (apesar dos envolvimentos amorosos que teve) por presenciar frequentemente casos de violência doméstica. Parte do papel que encontrava guardava para poder escrever, apesar do nível baixo de instrução, Carolina escreveu 58 cadernos com diários, 7 romances, 60 textos curtos, 100 poemas, 4 peças de teatro e 12 letras para marchas de carnaval.

A obra: Quarto de despejo (1960) foi organizado pelo repórter Audálio Dantas dois anos após seu encontro com Carolina e a descoberta dos cadernos. Publicado em um período onde o cenário da literatura brasileira estava sofrendo o impacto de autores como Clarice Lispector e Guimarães Rosa. A obra se encaixa em um período que Alfredo Bosi chamaria de “brutalista”, por tratar (no caso de Quarto de despejo) empiricamente a agressividade da vida na cidade grande. Dantas apesar das edições e omissões de alguns trechos, procurou manter-se fiel à escrita original, reproduzido até mesmo erros ortográficos. Neles, Carolina retrata de maneira crua a dura realidade do Canindé, as brigas com e entre os vizinhos, a dificuldade de criar os filhos, e através de sua própria experiência temos um realista retrato social e político da época. A autora conta fatos de se cotidiano, desde levantar cedo para buscar água, cozinhar feijão nas latas ou até mesmo colocar os filhos na cama com fome quando não havia dinheiro suficiente para comprar alimento para o dia. Infelizmente, Quarto de despejo é uma obra atemporal, visto que a miséria da favela ainda é uma realidade existente nos dias de hoje. É notável na obra as considerações que a autora faz sobre ela mesma e os outros moradores do Canindé, sempre afirmando ser diferente de todos eles. O preconceito é visível em suas diferentes faces: por ser mulher, mãe,solteira, pobre e até mesmo dentro da própria favela, por ser alfabetizada.

 

Várias Histórias

Autor

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839, na cidade do Rio de Janeiro. Filho de família pobre e mulato, sofreu preconceito, e perdeu a mãe na infância, sendo criado pela madrasta. Apesar das adversidades, conseguiu se instruir. Em 1856 entrou como aprendiz de tipógrafo na Tipografia Nacional. Posteriormente atuou como revisor, colaborou com várias revistas e jornais, e trabalhou como funcionário público. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Algumas de suas obras são Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, O Alienista, Helena, Dom Casmurro e Memorial de Aires. Faleceu em 29 de setembro de 1908.

Contexto Histórico

Várias histórias foi publicado em 1896, fazendo parte do período realista de Machado de Assis. Os contos da obra são profundamente marcados pela análise psicológica das personagens, além da erudição e intertextualidade que transparecem, como por ex., referências à música clássica, a clássicos da literatura, bem como a histórias bíblicas. Muitos apresentam um tom pessimista. A maior parte das histórias se passa no Brasil do séc. XIX, sobretudo na segunda metade do século, de modo que os contos retratam bem o contexto sociocultural da época.

A Obra

Várias histórias é uma coletânea de 16 contos. Segue-se o resumo das histórias.
“A cartomante” é sobre o triângulo amoroso envolvendo Vilela, Camilo e Rita. Vilela e Camilo são amigos. Vilela e Rita são casados. Rita e Camilo são amantes. Rita, certa vez, consulta uma cartomante sobre Camilo, a qual a alivia dizendo que Camilo a ama. Um dia, Camilo é intimado por Vilela a ir à casa do casal. Apesar do receio, vai. Por conta de um acidente, ele para em frente da casa da cartomante. Resolve então consultá-la. Ela diz que nada de mal acontecerá. Camilo chega à casa de Vilela, mas a previsão da cartomante se mostra equivocada: Rita está morta no chão, e Vilela o mata.
O segundo conto é “Entre santos”, em que um velho padre narra um milagre que viu anos atrás. Numa noite, cinco santos da igreja, vivificados, contam entre si as orações feitas pelos fiéis no dia. A principal narrativa é de S. Francisco de Sales: é sobre Sales, um avaro e usurário, cuja mulher está à beira da morte, e vai à igreja para pedir intercessão divina para ela. Por sua disposição de avaro e usurário, prefere prometer mil padre-nossos e mil ave-marias ao invés de gastar dinheiro com alguma outra promessa.
“Uns braços” é sobre a paixão juvenil de Inácio, um rapaz de quinze anos, por D. Severina, esposa de seu patrão, Borges. D. Severina acaba descobrindo a paixão do jovem, mas mantém o segredo. Num dia, estando ela sozinha com o rapaz, que dormia, dá um beijo nele. Mas ninguém descobre. No fim, Borges despede o rapaz.
“Um homem célebre” é a história de Pestana, compositor de polcas famoso nas redondezas. Suas polcas são tocadas por toda a cidade, mas o que ele mais quer é se equiparar aos grandes compositores, como Mozart. Pestana se casa com uma viúva cantora, e acredita que com a mulher conseguirá realizar seu sonho. Mas sua ambição de compor algo grande sempre fracassa.
Em “A desejada das gentes”, um conselheiro conta sua história de juventude com Quintília, a jovem mais bonita da cidade. Ela era muito bonita, atraindo muitos pretendentes, mas recusa todos. O conselheiro e Quintília se tornam íntimos amigos. Ela promete nunca se casar, mas acaba se casando com ele quando está à beira da morte.
“A causa secreta” é a história de Garcia, Fortunato e Maria Luísa. Garcia e Fortunato são amigos. Fortunato é casado com Maria Luísa. Fortunato funda uma casa de saúde, onde trabalha muito. Ele é sádico, fazendo, por ex., experimentos com animais. Garcia se apaixona por Maria Luíza, mas ela não trai seu marido.
“Trio em lá menor” é dividido em quatro partes como uma sonata. É a história de um trio: uma moça, Maria Regina, e seus dois pretendentes, Maciel e Miranda. Ela é apaixonada pelos dois, e os dois por ela, mas ela não se decide por um apenas; ao contrário, se mantém fantasiando um homem perfeito. No fim, ela acaba sozinha.
Em “Adão e Eva”, o juiz-de-fora Veloso conta uma história alternativa do Jardim do Éden. Segundo Veloso, o mundo é criação conjunta de Deus com o Tinhoso, tendo este começado a criar. O homem reúne instintos maus e a alma divina. Odiando Adão e Eva, o Tinhoso os tenta, por meio da serpente, para comer da árvore da ciência do bem e do mal. Adão e Eva rejeitam a tentação, e são levados para morar no céu.
Em “O enfermeiro”, Procópio conta sua história como enfermeiro do coronel Felisberto. O coronel era conhecido por sua crueldade e maus-tratos aos empregados. O coronel trata Procópio muito mal. Procópio acaba matando o coronel não propositalmente. Procópio sente remorso, mas ninguém descobre, e ele se torna herdeiro da fortuna de Felisberto, uma vez que o coronel o nomeara em seu testamento.
“O diplomático” é a história de Rangel, chamado de “o diplomático”, um quarentão solteiro que anseia por se casar. Numa comemoração de S. João, ele tem interesse por Joaninha, filha do dono da casa. Mas chega inesperadamente um rapaz, Queirós, que atrai a atenção de todos, inclusive de Joaninha. Isso frustra Rangel. Joaninha fica interessada por Queirós, e Rangel a perde para ele.
Em “Mariana”, Evaristo volta, depois de vários anos, da França para o Brasil, ao saber do fim da monarquia. Ele decide rever Mariana, seu amor de juventude, esperando que ela ainda o ame. Mas ele descobre que Mariana o não ama mais. Ela se casou, e ama seu marido, Xavier, que se encontra então à beira da morte. Ele volta à França.
Em “Conto de escola”, o menino Pilar recebe de Raimundo, filho do professor, uma moeda de prata para ajudá-lo nas matérias. No entanto, seu colega, Curvelo, dedura-os para o professor, e ambos, Pilar e Raimundo, são castigados.
“Um apólogo” é o conto de um novelo de linha e de uma agulha da costureira de uma baronesa, que discutem sobre quem é mais importante na costura. A agulha se vangloria por ir à frente enquanto a costureira trabalha. Mas, no fim, é a linha que vai à festa na roupa da baronesa, enquanto a agulha serve só para abrir caminho para a linha.
Em “D. Paula”, Venancinha e Conrado, casados, brigam por conta do envolvimento de Venancinha com o filho de Vasco Maria Portela. A tia do casal, D. Paula, intercede para conciliá-los. D. Paula descobre que o Vasco pai é o mesmo com que se envolveu na juventude, e, enquanto aconselha a sobrinha, relembra o passado.
“Viver!” é a história de Ahasverus, o último homem. Ahasverus foi condenado a vagar eternamente pelo mundo por ter injuriado Jesus, quando Ele passava por sua casa para ser crucificado. Ahasverus odeia a vida por ver tanto sofrimento, mas encontra Prometeu, que o convence de que o mundo tem sua face boa e que haverá um novo mundo, em que Ahasverus será o rei. Todavia, tudo não passa de delírios de Ahasverus.
Em “O cônego ou Metafísica do estilo”, um cônego tenta escrever um sermão. Enquanto isso, o narrador expõe a “metafísica do estilo”: segundo ele, todas as palavras têm sexo, sendo os substantivos masculinos, e os adjetivos, femininos. Eles se amam, e sua união forma um dado estilo. A busca por inspiração, que o cônego faz durante uma pausa, é vista como um mergulho na inconsciência, sendo seu conteúdo os obstáculos para a união dos casais de palavras.

 

Laços de Família – Clarice Lispector

Autora:
As obras de Clarice Lispector fazem parte do Romance de 30, no qual poucos nomes sustentavam a acadêmica ficção e sendo quase todos remanescentes do chamado Romance do Nordeste, outra pequena parte eram intituladas como romances psicológicos, intimistas, ao qual Clarice integrava o movimento.
Interressando sua literatura num mundo subjetivo, de sensações e emoções, Clarice transmite ao leitor o conhecimento do mudo que é dado aos personagens de forma sensorial, ou seja, o drama psicológico. Trabalhando em sua obra grande parte com o narrador em terceira pessoa, Clarice Lispector consegue uma maior autonomia de seus personagens, rompendo com a narrativa “memorialística” da primeira pessoa, em que os personagens são trabalhados de forma em que prevalece o uso de “tabus” e a “herança intelectural” dos escritores anteriores, Clarice é uma leitora de James Joyce, portanto sua escrita é subjetiva em que há predominância do fluxo de consciêcia dos personagens.

Contexto Histórico:

Laços de Família é o primeiro livro de contos de Clarice Lispector, publicado em 1960. Nele, estão reunidos 13 contos com temática no processo de aprisionamento dos indivíduos por meio dos “laços de família”, da prisão doméstica, do cotidiano. Esses contos quebram com os padrões conformistas dos romances escritos anteriormente.
A visão interna dos personagens dos contos desta obra em relação ao mundo real, Clarice usa uma linguagem rica de sugestões, cheia de achados expressionais, que a colocam ao lado de Guimarães Rosa no quesito renovação da linguagem literária.

Resumo da obra:

Laços de Família é o primeiro livro de contos de Clarice Lispector, publicado em 1960. Nele, estão reunidos 13 contos com temática no processo de aprisionamento dos indivíduos por meio dos “laços de família”, da prisão doméstica, do cotidiano. Esses contos quebram com os padrões conformistas dos romances escritos anteriormente.
A visão interna dos personagens dos contos desta obra em relação ao mundo real, Clarice usa uma linguagem rica de sugestões, cheia de achados expressionais, que a colocam ao lado de Guimarães Rosa no quesito renovação da linguagem literária.

Referências:
BRASIL, Assis, Clarice Lispector; Ensaio. Rio de Janeiro: 1932, Ed.Organização Simões.

 

“O PAGADOR DE PROMESSAS”, DE DIAS GOMES.

SOBRE O AUTOR:
Alfredo de Freitas Dias Gomes (1922-1999) nasceu em Salvador, Bahia, no dia 19 de outubro de 1992. Escreveu a “Comédia dos Moralistas”, sua primeira peça teatral aos 15 anos. A peça foi premiada no Concurso do Serviço Nacional de Teatro em 1939, embora nunca tenha sido encenada.
Em 1942 foi encenada a peça “Pé de Cabra”, que foi censurada pelo Estado Novo, regime ditatorial implantado pelo presidente Getúlio Vargas, por ser considerada de conteúdo marxista. Com seus textos censurados, passou a escrever radionovelas, nos anos 50, mas deixou de exercer a atividade com a chegada da ditadura militar em 1964.
Dias Gomes sempre se considerou um dramaturgo, mas a destreza para escrever diálogos vividos por tipos populares foi o passaporte para ser chamado para o cinema e a TV. Escritas nos anos de 1960, “O Pagador de Promessas” e o “Bem Amado”, são as principais peças que chegaram ao cinema e à TV. “O Pagador de Promessas”, que ele mesmo adaptou para o cinema em 1962, recebeu a Palma de Ouro do Festival de Cannes de 1962.
No final da carreira, Dias Gomes passou a se dedicar aos textos mais breves, alegando que “Uma novela é o caminho mais curto para um enfarte”. Em 1991 Dias Gomes foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras, para a cadeira n. 21.
Dias Gomes faleceu em São Paulo, em um acidente automobilístico, no dia 18 de maio de 1999.
CONTEXTO HISTÓRICO:
Apresentada ao público em um período de turbulência política, poucos anos antes do início da ditadura militar, O Pagador de Promessas traz à tona uma série de conflitos entre o Brasil rural e o urbano, muito evidente na onda de modernização que atravessava o país ao longo da década de 50 e 60. Tais conflitos, na peça, são sintetizados pelo embate entre a crença popular, o sincretismo que formou a tradição religiosa brasileira, e o dogmatismo, o ritualismo rigoroso e a burocratização da igreja.
RESUMO DA OBRA:
A história se passa na década de 60, na Bahia, e começa com uma promessa. Zé do Burro pede que Santa Bárbara salve seu burro, que fora ferido por um galho de árvore. Como na cidade não havia uma igreja dedicada à santa, a promessa foi feita em um terreiro de candomblé, onde a santa ganha o nome de Iansã.
Zé do Burro, portando uma cruz nos ombros, e sua mulher, Rosa, caminham sete léguas do sertão baiano até Salvador com o intuito de pagar a promessa. Chegam a Salvador de madrugada, alojando-se nas escadarias da igreja dedicada à santa. São interpelados pelo sedutor Bonitão, que se aproveita da ingenuidade de Zé do Burro para seduzir Rosa. A mulher resiste no início, mas acaba por passar a noite com ele em um quarto de hotel.
Ao contar ao padre que a promessa fora feita em um terreiro de candomblé a Iansã, Zé é impedido de entrar na igreja. Obstinado, ele insiste em permanecer, ignorando os apelos da mulher para partirem. Zé do Burro torna-se assunto na cidade e acaba alvo de um repórter sensacionalista, que distorce os fatos e o retrata como um messias que apoia a reforma agrária.
Ao saber por Marli, uma prostituta apaixonada por Bonitão, que Rosa passara a noite com o homem, Zé começa a dar vazão à sua revolta. Já Bonitão, decidido a se livrar de Zé para poder se aproveitar de sua esposa, convence o policial, Secreta, da credibilidade da versão do jornal.
Após muita insistência, o Monsenhor tenta persuadi-lo a refazer a promessa para que possa entrar na igreja. Desacatando as considerações do eclesiástico, Zé se enfurece e termina autuado pela polícia. Recusando-se a ir detido, tenta desesperadamente entrar na igreja com a cruz para cumprir sua promessa, ao que é assassinado por Secreta. Os capoeiristas, por fim, fazem entrar, sobre a cruz, seu corpo na igreja.

REFERÊNCIAS:

https://www.ebiografia.com/dias_gomes/

http://educacao.globo.com/…/res…/o-pagador-de-promessas.html

 

“CAPITÃES DA AREIA” DE JORGE AMADO
Autor:
Jorge Amado nasceu em Itabuna (BA), em 10 de agosto de 1912, e passou a infância em Ilhéus. Fez os estudos universitários no Rio de Janeiro e depois deixou o Brasil e por cinco anos viveu na Europa e na Ásia. Morreu em 6 de agosto de 2001, em Salvador. É o romancista brasileiro mais traduzido e conhecido em todo o mundo.
Suas principais obras são: “O país do carnaval” (1930), “Capitães da areia” (1937), “Gabriela, cravo e canela” (1958), “A morte e a morte de Quincas Berro d’Água” (1961), “Dona Flor e seus dois maridos” (1966), “Tieta do agreste” (1977) e muitas outras.

Contexto Histórico:
Escrita na época em que a Bolsa de Valores de Nova York quebrou (década de 1930), a obra mostra a revolta da população nordestina que gerou a Revolução de 30. Jorge Amado é considerado um dos mais importantes militantes da época e também um dos autores responsáveis pela criação de um novo estilo na literatura, onde a linguagem regional e as gírias locais estão presentes.

Resumo da Obra:
A obra conta a vida dos Capitães da Areia, um grupo de cerca de 100 garotos abandonados e órfãos que moram em um trapiche na cidade de Salvador, e vivem do furto. A história gira em torno das aventuras vividas pelo chefe Pedro Bala, filho de um famoso estivador que morreu numa greve no cais da cidade com um tiro, e as outras crianças, das quais se destacam:
Sem-Pernas, menino coxo, que guarda um grande ódio em seu coração por toda a sociedade, principalmente pelos policiais, que uma vez o capturaram e o fizeram correr em volta de uma sala enquanto o maltratavam com tapas e chicoteadas. Por ser manco, às vezes era usado para assaltos, pois pedia ajuda a famílias ricas e ficava na casa até identificar todos os bens valiosos do lugar, e então informava os amigos;
Gato, que recebeu esse nome por ser o mais belo entre os meninos. Gato acaba se apaixonando por Dalva, uma prostituta, que acaba se envolvendo com ele logo após de ser abandonada pelo amante;
Professor, o único das crianças que sabe ler e conta histórias para os outros. Às vezes, ganha alguns trocados fazendo retratos das pessoas, e a maioria de seus furtos são livros, os quais ele passa a noite lendo iluminado pela luz de uma vela;
Pirulito, que após conhecer o Padre José Pedro, descobre um amor incondicional a Deus e sua vocação religiosa;
Volta Seca, afilhado do famoso Lampião, e que sonha em fazer parte de seu bando quando crescer;
João Grande, que tem o respeito do resto por seu tamanho e sua bondade;
Boa Vida, garoto que se contenta com pouco e não gosta de trabalho.
Ao decorrer da história, conhecemos também o Padre José Pedro, um homem humilde que só conseguiu entrar no seminário com a ajuda de seu ex patrão, e que faz de tudo para ajudar os meninos a mudarem de vida; a mãe-de-santo Don’Aninha, que cuida dos garotos quando estão doentes; o capoeirista Querido de Deus, que ensina aos meninos as artes da capoeira e o estivador João de Adão, que trabalhou com o pai de Pedro Bala.
Em meio a tantas aventuras dos meninos, Volta Seca e Sem-Pernas passam a trabalhar para o dono de um carrossel que passa pela cidade. O carrossel trás aos meninos, menos que por um pouco tempo, a felicidade de poder brincar como crianças novamente.
Em certo momento, a varíola assola a cidade e um menino do grupo contrai a doença e é levado para sua família, mas acaba que a saúde pública descobre e o interna. Um pouco depois, aparecem Dora e Zé Fuinha, ela com 13 anos e ele com 6 anos, filhos de vítimas da varíola, que são encontrados por João Grande e Professor e os acolhem, já que os irmãos não tem para onde ir. De começo, os meninos do trapiche tentam abusar de Dora, mas ela é protegida por João Grande e Professor, e logo depois Pedro Bala percebe que Dora era apenas uma menina, e proíbe qualquer um de tentar abusar da garota. Em poucos meses, Dora já é chamada de irmã pelos meninos e já participa dos assaltos. Ela acaba se apaixonando por Pedro Bala, que tem o sentimento recíproco. Outro que se apaixona pela menina é Professor.
Em um assalto a uma casa, Pedro Bala, Dora, Gato, Sem-Pernas e João Grande acabam sendo pegos pela polícia, mas Pedro Bala consegue libertar os outros, sendo detidos apenas ele e Dora. A menina é levada para o orfanato, enquanto ele é levado para o reformatório. Lá, ele sofre oito dias dentro da cafua, um quarto em baixo das escadarias onde o menino mal consegue ficar em pé. Lá ele fica apenas a base de água e feijão, o que o deixa meio doentio. Após os oito dias passados, ele é mandado para trabalhar na colheita de cana, onde consegue se comunicar com os outros capitães, que o ajudam a fugir do reformatório. Alguns dias após a fuga, Bala e seus amigos conseguem retirar Dora do orfanato, de onde a menina sai muito doente. A doença piora depois da fuga, o que entristece todo o trapiche. Don’Aninha tenta ajudar a menina com rezas e remédios caseiros, mas não tem muito sucesso. Após muita insistência de Dora, Pedro Bala consuma o amor dos dois com o ato, e no mesmo dia a menina acaba falecendo. Gato vai para Ilhéus com Dalva, onde enriquece enganando ricos fazendeiros.
Após algum tempo, os mais velhos do grupo resolvem sair do trapiche e seguirem suas vidas: Professor conhece um senhor que o leva para o Rio de Janeiro, onde ele começa a estudar artes e se torna um conhecido pintor. Volta Seca resolve ir para Aracaju, passar um tempo com os Índios Maloqueiros, os Capitães da Areia de Aracaju, mas no meio do caminho ele encontra seu padrinho Lampião, que o aceita no bando. Pirulito se torna capuchinho e parte para ajudar Padre José Pedro em sua nova paróquia. Boa Vida vai aos poucos se distanciando do trapiche, e se torna um malandro da cidade, que gosta de festas e muita farra. Sem-Pernas acaba se jogando do elevador de Salvador numa perseguição entre a policia e os capitães, pois não queria que a policia o capturasse e o maltratasse novamente.
Pedro Bala e os meninos que ficaram no trapiche, então, ajudam João de Adão e um amigo, Alberto, numa greve. Após a greve, Alberto os transforma em uma brigada de choque. Depois disso, Bala recebe a missão de ir a Aracaju transformar a vida dos Índios Maloqueiros, como Alberto transformou a vida dos Capitães da Areia. E então, após passar o comando do bando para um outro menino e começa a lutar pelos direitos da população, como seu pai fez há tempos.

Referências:

AMADO,Jorge. Capitães da Areia. 23. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2009

ESTUDANTE, Guia do. “Capitães da areia” – resumo da obra de Jorge Amado. 2014. Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br>. Acesso em: 06 jun. 2014
BRASIL, Universia. Estude os livros obrigatórios da Fuvest e Unicamp 2013: Capitães da Areia, de Jorge Amado. 2012. Disponível em: <http://noticias.universia.com.br>. Acesso em: 06 jun. 2014.

 

CONTOS DA MONTANHA – MIGUEL TORGA

SOBRE O AUTOR:
Escritor português natural, de São Martinho de Anta, Vila Real. Proveniente de uma família humilde teve uma infância rural dura, que lhe proporcionou conhecer a realidade do campo, feita de árduo trabalho contínuo. Após uma breve passagem pelo seminário de Lamego, emigrou com 13 anos para o Brasil, onde durante cinco anos trabalhou na fazenda de um tio, em Minas Gerais, como capinador, apanhador de café, vaqueiro e caçador de cobras. De regresso a Portugal, em 1925, concluiu o ensino liceal e frequentou em Coimbra o curso de Medicina, que terminou em 1933. Exerceu a profissão de médico em São Martinho de Anta e em outras localidades do país, fixando-se definitivamente em Coimbra, como otorrinolaringologista, em 1941. Miguel Torga era ligado inicialmente ao grupo da revista Presença.

CONTEXTO HISTÓRICO:
Miguel Torga faz parte do Presencismo, movimento literário de grande relevância. O Presencismo, também conhecido como a segunda fase do modernismo português, teve início no ano de 1927 com a publicação da Revista Presença: Folha de Arte e Crítica. Revista Presença reuniu aqueles que não participaram do Orfismo em virtude de divergências estéticas. Ao contrário do Orfismo, que tinha como objetivo apresentar uma poesia que rompesse com os padrões literários vigentes, chocando e provocando a crítica e público, sobretudo a burguesia, o Presencismo tinha como ideal interrogar o sentido da existência humana.

RESUMO DA OBRA:
Contos da Montanha remete o leitor para um espaço situado no interior, composto por 23 contos, neste livro Miguel Torga apresenta aos seus leitores textos que representam descrições do comportamento humano, das suas emoções e dos seus sentimentos. O leitor da obra deve voltar sua atenção para o que existe de comum nos 23 contos, que está altamente voltado para as ações humanas, pois, Miguel Torga traz fortes traços do humanismo em suas obras, dentro dos contos as pessoas são heróis e sobreviventes da suas vidas de miséria, de fome e de sofrimentos.

Os 23 contos são: A Maria Lionça; Um roubo; Amor; Homens de Vilarinho; O Cavaquinho; A ressurreição; Um filho; A promessa; Maio moço; O bruxedo; A paga; Inimigas; Solidão; A ladainha; O vinho; O lugar de sacristão; Justiça; A vindima; Um coração desassossegado; A revelação; O desamparo de S. Frutuoso; O castigo; O pé tolo.

Vejamos resumidamente três dos vinte e três contos:

“A Maria Lionça”
Maria Lionça é a personagem principal deste conto. Maria é uma mulher respeitada, amada, pobre, bonita, forte. Ela viveu em Galafura durante setenta anos onde encontrou o amor da sua vida, Lourenço Ruivo, com quem se casa e tem um filho, Pedro. Lourenço acaba lhe provocando um grande desgosto de amor, pois Ruivo foge para o Brasil sem dar noticias. Quinze anos depois ela acaba o perdoando quando ele volta à terra muito doente, onde morre passado pouco tempo, Maria fica de novo sozinha cuidando do filho, que também acaba adoecendo e por consequência morre nos braços da mãe e ela morre também ao final do conto, depois de uma vida dedicada a ajudar os outros.

”O cavaquinho”
É narrada a história de uma família muito pobre que vivia num casebre a “três léguas” de Vilela, onde o pai, chefe de família, promete uma prenda de Natal ao filho de 10 anos, pelo seu bom desempenho no primeiro exame da escola. A criança estava entusiasmada e bastante curiosa em saber o que iria receber, uma vez que já conhecia os fracos rendimentos dos pais e aquela situação, o fato de poder receber algo novo e “gratuito”, deixava-o fascinado. Porém, na noite em que, supostamente, iria descobrir o que seria a sua recompensa, recebe a triste noticia de que o pai falecera com uma facada, perto de um cavaquinho que lhe trazia. Um conto que começa por uma notícia boa (o exame do filho e promessa da oferta de uma prenda) e termina com a morte do pai, de forma dramática.

“Homens de Vilarinho”
Neste conto Torga conta a história de Firmo, personagem cuja principal marca é a infidelidade à terra natal. Nem o fato de ter mulher e filhos a zelar o prendia ao território. Aliás, as suas visitas a Vilarinho duravam pouquíssimo tempo. Foram inúmeras as tentativas do padre João, pároco do povoado, para convencê-lo da necessidade de corrigir-se, mas o “desejo de mundos” que tinha Firmo, não o permitia ficar. Por possuir esse caráter, Firmo é caracterizado no conto como aquele que “desorientava Vilarinho”. Por não cultivar o sentimento de pertença à terra nem à casa, de maneira mais específica, o seu lugar na narrativa é a de um desordenado, um desertor.

REFERÊNCIAS:

TORGA, Miguel. Contos da montanha. 9. ed. Lisboa: Dom Quixote, 1999. 214p. (Biblioteca de bolso)

http://virtualiaomanifesto.blogspot.com.br/…/contos-da-mont…

 

” PONCIÁ VICÊNCIO”, DE CONCEIÇÃO EVARISTO

SOBRE A AUTORA
Conceição Evaristo nasceu em 1946, em Belo Horizonte. Filha de lavadeira, cresceu rodeada por histórias que os mais velhos lhe contavam. Conceição é reconhecida no plano nacional e internacional como escritora brasileira afrodescendente militante em defesa dos direitos do movimento negro. Formou-se mestre em Literatura Brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Doutora em Literatura Comparada na Universidade Federal Fluminense, atualmente leciona na Universidade Federal de Minas Gerais. Publicou seu primeiro poema em 1990, na série Cadernos Negros, editado pelo grupo Quilombhoje, de São Paulo. Desde então, publicou diversos outros poemas e contos nos Cadernos. Suas obras, em destaque o romance Ponciá Vicêncio (2003), abordam temas sobre a identidade negra, a discriminação racial e a desigualdade social.

SOBRE A OBRA
Ponciá Vicêncio, indicado ao vestibular 2016 da UNICENTRO é o primeiro romance afro-brasileiro escrito por Conceição Evaristo. O enredo abordado sob a perspectiva feminina afrodescendente, traça a trajetória desde os primeiros meses de vida até a fase adulta da protagonista. O narrador, na terceira pessoa, leva o leitor a conhecer os caminhos percorridos por Ponciá Vicêncio, em um constante diálogo entre o passado e o presente; a desesperança com o futuro e a busca da sua identidade ancestral, são os temas que rodeiam a narrativa.
O romance se apresenta de maneira fragmentada, através de flashbacks, retoma a infância e volta à fase adulta quase no mesmo instante. Ponciá, guarda na memória detalhes da vida ao lado da família na vila rural, a sua semelhança com o avó Vicêncio, escravo liberto e de bracinho cotó, que assim como Ponciá, vivenciou sucessivas perdas até fechar-se em si num grande vazio existencial. A mãe da protagonista, Maria Vicêncio, aparece constantemente na narrativa, ora para relembrar o trabalho artesanal que elas faziam com o barro, ora tomado pelo sentimento de saudade. Além disso, Ponciá Vicêncio relata sobre pouco contato que tinha com o pai e o irmão, Luandi, devido ao trabalho na roça nas fazendas dos brancos, relembra que embora o contato fosse mínimo, sentia imensa ternura pelos seus.
Na atual fase a protagonista se mostra abatida, olhando pela janela, esquecida em meio à favela, seu desejo é reencontrar a mãe e o irmão que deixou quando partiu para a cidade grande. Fadada à imobilidade de sua sina, tornou-se uma espécie de farrapo humano, após sofrer sucessivos abortos e vivendo ao lado de um marido agressivo que não a compreende, Ponciá guarda suas economias do trabalho de doméstica com a esperança, mínima que lhe resta, de reunir novamente a sua família.
Para a tristeza de Maria Vicêncio, Luandi também decide migrar para a cidade grande. Na capital faz amizade com o soldado Nestor e começa a trabalhar como faxineiro na delegacia, aprende a ler e escrever almejando tornar-se soldado. Apaixona-se pela prostituta Bisila, porém o assassinato da moça interrompe os sonhos do jovem casal.
Morando sozinha na vila rural, Maria Vicêncio, decide ir ao encontro dos filhos. Enquanto isso, Luandi, com a farda emprestada do soldado Nestor, também retorna à vila e não encontra a mãe, lá se depara com Nêngua Kainda, uma velha sábia da região que no passado profetizou sobre o cumprimento da herança ancestral de Ponciá, esta diz a Luandi que ele reencontrará a mãe e a irmã. Sofrendo com saudades da família, Ponciá rememora as lendas que lhe eram contadas sobre o arco-íris na infância, do contato com barro, de sentir-se viva, e assim como o artesanato que fazia deseja moldar-se, unir-se como a água e o barro, criando a partir dessa união algo sólido capaz de juntar os seus pedaços. Decide então, retornar à cidade natal, na estação de trem acontece o reencontro inesperado da família Vicêncio. O desfecho do livro vai além do reencontro dos três, é o encontro do rio com o barro, o preenchimento do vazio interior de Ponciá, o contato com as suas raízes e o retorno à sua ancestralidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DINONÍSIO, Dejair. Ancestralidade Bantu na Literatura Afro-brasileira: Reflexões Sobre o Romance “Ponciá Vicêncio”, de Conceição Evaristo. Belo Horizonte: Nandyala, 2013.

EVARISTO, Conceição. Ponciá Vicêncio. 2. ed. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2005.

http://blogueirasfeministas.com/2011/11/conceicao-evaristo/, acessado em: 23/08/2016, às 13:30.

 

“MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS”, DE MANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA

AUTOR
Manuel Antônio de Almeida nasceu no dia 17 de novembro de 1830, na cidade do Rio de Janeiro. Ele concluiu o Doutorado em Medicina no Rio de Janeiro em 1855, mas nunca exerceu a profissão. O autor atuou como funcionário público, administrador da Tipografia Nacional e oficial do Ministério da Fazenda. O escritor também foi jornalista, colaborando com artigos para o Correio Mercantil de 1854 a 1856, e a única produção dele é esse romance, Memórias de um Sargento de Milícias, inicialmente impresso em folhetins e depois em um livro de dois tomos, publicados em 1854 e em 1855.

CONTEXTO HISTÓRICO
O período em que a Coroa Portuguesa se instalou no Brasil foi um momento crítico na nossa história, em virtude das mudanças sociais a que foram submetidas o povo brasileiro. O primeiro momento de descontentamento foi quando os moradores das melhores residências tiveram que abrir mão de suas moradias em detrimento da aristocracia portuguesa. Em seguida, os gastos exorbitantes da Família Real agravavam a crise econômica, a fome e a miséria na qual viviam os brasileiros. Esse sentimento de crítica permeia a obra toda, que passa “alfinetar” o comportamento do povo diante de tal situação: todos buscavam obter algum tipo de vantagem.

RESUMO DA OBRA
Leonardo Pataca e Maria da Hortaliça se conheceram no navio que vinha para o Brasil. Como sinal de interesse os dois trocam “uma pisadela” e “um beliscão”, e assim passam a namorar. Logo após casaram e tiveram um filho chamado Leonardo. Maria da Hortaliça abandona o marido e vai embora para Lisboa, com o capitão do navio. Pataca recusa-se a criar o filho, deixando-o com o padrinho, o Barbeiro, que passa a dedicar ao menino cuidados de pai. Pataca se envolve com uma cigana, que também o abandona. Para tentar recupera-la, recorre à feitiçaria, prática proibida na época. Flagrado pelo Major Vidigal, vai para a prisão, mas é solto em seguida. Leonardo era desde pequeno manhoso e arteiro, seu padrinho sonhava torna-lo padre. Então Leonardo, convence o a permitir que ele frequente a Igreja na condição de coroinha, o padrinho aceitou alegremente o pedido do afilhado, vendo aí uma oportunidade para dar um futuro a ele, mas tempo depois o menino foi expulso de tanto aprontar. Já rapaz levava uma vida de vadio. Ele e seu padrinho passaram a frequentar a casa de D. Maria. Com o tempo o menino foi sossegando, até que chegou a idade dos amores e se apaixona por Luisinha, uma menina descrita como feia e que era filha do recém-falecido irmão de D. Maria. Porém, ao tentar conquistar Luisinha, Leonardo faz com que ela se afaste, mais tarde ela se casa com José Manuel. O Barbeiro morre e deixa uma herança para o afilhado. Leonardo volta a viver com o pai, mas tem um desentendimento e foge. Envolve-se com a mulata Vidinha e passa a sofrer as perseguições do Major Vidigal. Para não ser preso, é forçado a se alistar, mas ele continua a aprontar dentro do Batalhão da Polícia e acaba preso. Com a ajuda de Maria Regalada, antiga amante de Vidigal, que lhe promete a retomada do antigo afeto, Vidigal perdoa Leonardo e ainda promete promove-lo a sargento do exército. Ele reencontra-se com Luisinha, então recém-viúva, e os dois reatam o namoro e se casam. Com a morte de D. Maria e de Leonardo Pataca, o casal toma posse de suas heranças.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA Manuel Antonio de, Memórias de um sargento de milícias. São Paulo: Ática, Série Bom Livro, 1991.

http://guiadoestudante.abril.com.br/…/memorias-sargento-mil…

http://noticias.universia.com.br/…/estude-os-livros-obrigat…

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