LITERAPARTILHA

O projeto LITERAPARTILHA pretende levar a poesia, a arte e a prosa para o cotidiano das pessoas. O grupo PET- LETRAS lança a ideia e conta com a ajuda de todos que acreditam que a literatura nos liberta.
A ideia é deixar poemas, dobraduras, xérox, livros e roupas a disposição de todos, mas para isso pedimos sua colaboração nessa corrente literária. Escreva e deixe no mural, pegue a sua e retribua. Pode ser poema, livros, xérox, dobraduras ou roupas. Ajude nossa alma a se enfeitar.
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José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Carlos Drummond de Andrade )
(Publicado em Antologia Poética – 12a edição – Rio de Janeiro: José Olympio, 1978, ps. 10,11 e 12)